sábado, 11 de junho de 2011

Butô



Kazuo Ohno, um dos mais aclamados dançarinos japoneses de todos os tempos, é um dos responsáveis pela instauração de um novo panorama no teatro ocidental: o teatro-dança.

Nascido em 27 de outubro de 1906, em Hakodate, no Japão, cursou Educação Física na Escola Atlética do Japão e estreou como dançarino somente aos 43 anos, em Tóquio. A partir dos anos 80 passou a viajar por diversos países apresentando seus mais belos espetáculos de teatro-dança, entre eles Admirando La Argentina, um solo de noventa minutos em homenagem a bailarina espanhola Antonia Mercê, conhecida como La Argentina.

O Butô, criado por ele num processo de colaboração intensa com Tatsumi Hijikata, nasceu na virada da década de 50 para 60, no Japão do pós-guerra fragmentado pela derrota e tomado pela consciência de que a verdadeira arte era a desenvolvida no ocidente. A dança é não só uma grande ruptura com as formas tradicionais de teatro e dança japoneses, como também uma negação contundente da influência da cultura ocidental, principalmente da americana, que na época era considerada "vitoriosa".

"Bu" significa dança, e "toh", passo. Butô combina dança e teatro, em espetáculos centrados em temas como o nascimento, a sexualidade, o inconsciente, a morte, o grotesco. O corpo é esvaziado de referências culturais e se entrega a todo tipo de metamorfose.

Segundo Antunes Filho, o Butô vem da morte. Ele jamais existiria se não fosse a bomba atômica. É uma espécie de manifestação escatológica. E se Hijikata revela a escatologia de maneira yang – terrível, masculina – Kazuo Ohno nos oferece esse mesmo universo de maneira yin – maternal, pleno de amor e esperança. Ele trabalha com o corpo morto, murcho, com o qual seguem os impulsos e instintos da alma. Permite, portanto, que a memória chegue sem produzir esteriótipos, clichês que vêm da parte emocional, e não dos arquétipos da mente.

Desde os primeiros trabalhos de Tatsumi Hijitaka (1928-86) e Kazuo Ohno (1906), o butô tem crescido e se desenvolvido muito. Não é raro nos dias de hoje ouvir críticas à internacionalização do butô, que teria levado à perda de sua verdadeira natureza. Mas alguns princípios são comuns a todos, como a exploração de um subconsciente do corpo e a dramatização de formas que emergem do processo natural de nascimento e envelhecimento.

Sankai Juku: Hibiki 
A peça Hibiki – Resonance from far away, da companhia japonesa Sankai Juku abriu o In Transit 09, festival de dança, teatro e performance contemporâneos que se realiza na Haus der Kulturen der Welt de Berlim. Fundado por Ushio Amagatsu, o grupo é um dos mais celebrados representantes do teatro-dança butô.
"Amagatsu está para a botânica como Pina Bausch está para a psicologia. Ele tira sua inspiração das menores variações de textura e tonalidade das plantas, assim como Bausch explora as emoções buscando seus paralelos no movimento." Assim o jornalInternational Herald Tribune definiu o trabalho do coreógrafo e dançarino nascido em 1949.
A comparação é inesperada, porém pertinente. Pois enquanto a dança clássica ocidental, e mesmo certas vertentes da dança contemporânea, são a glorificação do corpo humano, sua elevação até o divino, o butô procura o mais profundamente humano a partir do que está além/aquém dele – no animal, vegetal, mineral ou no sobrenatural, o mundo dos espíritos.


Fonte:http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4408356,00.html
http://www.opalco.com.br/foco.cfm?persona=materias&controle=116

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