sexta-feira, 10 de junho de 2011

Teatro Nô

Ameaçado pela ocidentalização que se seguiu à segunda guerra mundial, como todos os valores tradicionais da milenar cultura japonesa, o teatro nô não só resistiu galhardamente como se afirmou, mais além de seu significado histórico, como arte cênica perfeitamente contemporânea.
Nô, que significa "talento" ou "habilidade", é uma tradicional forma teatral do Japão e uma das mais antigas do mundo. Ao contrário do que ocorre no teatro ocidental, em que os atores representam a ação, na peça nô os atores são simples contadores de histórias que usam sua aparência e movimentos para transmitir o drama. A encenação consiste principalmente numa metáfora visual do que numa ação propriamente dita. Os espectadores já conhecem bem o enredo e podem assim reconhecer os símbolos e alusões sutis à história cultural japonesa.
Desenvolvido a partir de formas antigas de danças e dramas religiosos que emergiram por volta do século XII ou XIII, o teatro nô assumiu características diferenciadas no século XIV e aprimorou-se continuamente até o período Tokugawa (1603-1867). Tornou-se um drama cerimonial representado em ocasiões especiais por atores profissionais para a classe guerreira, como uma espécie de prece pela paz, longevidade e prosperidade da elite social. Fora das casas nobres, porém, havia apresentações às quais o povo podia comparecer. A restauração Meiji, em 1868, chegou a ameaçar a existência do nô, mas alguns atores mantiveram suas tradições e, após a segunda guerra mundial, graças ao interesse de grande número de jovens cultos, a forma nô renasceu.
Existem cinco tipos de peças nô. O primeiro, kami (deus), envolve uma história sagrada; o segundo, shura mono (peça de combate), centraliza-se em guerreiros; o terceiro, katsura mono (peça da peruca), tem uma mulher como protagonista (representada por um homem); o quarto tipo, de conteúdo variado, inclui gendai mono (peça do dia presente), no qual a história é contemporânea e "realista", e não lendária e sobrenatural, e kyojo mono (peça da mulher louca), na qual a personagem enlouquece com a perda de um amante ou filho; e o quinto tipo, kiri ou kichiku (peça "final" ou do "demônio"), na qual se representam demônios, animais estranhos e seres sobrenaturais.
Uma peça nô típica é relativamente curta, com poucos diálogos, que servem como simples moldura para o movimento e a música. Um programa nô consta de três peças escolhidas entre os cinco tipos, de modo a atingir tanto a unidade artística como a disposição desejada; invariavelmente, uma peça do quinto tipo encerra o programa. Farsas cômicas (kyogen) são apresentadas como interlúdios entre as peças.
Existem três grandes papéis no teatro nô: aquele que é desempenhado pelo ator principal, ou shite; o do ator secundário, ou waki; e os dos atores kyogen, um dos quais é freqüentemente o narrador da peça nô. Cada um dos papéis é uma especialidade e se filia a escolas, ou tendências, de desempenho. Há ainda outros papéis: atendente, menino, transeunte etc. O acompanhamento se faz por um coro instrumental de quatro músicos, que tocam flauta e três tipos de tambor, e por um coro de oito a dez cantores. A recitação é um dos mais importantes elementos da representação. Cada trecho deve ser recitado de maneira rigidamente estabelecida, assim como os movimentos e danças que o acompanham.
Sobrevivem intactos cerca de dois mil textos nô, dos quais cerca de 230 permanecem no repertório moderno. Muitas das mais belas e exemplares peças nô foram escritas por Zeami Motokiyo e por seu pai, Kanami Kiyotsugu. Zeami também formulou os princípios do teatro nô que guiaram atores por muitos séculos. Seu Kakyo (1424; O espelho da flor) detalha a composição, a recitação, a mímica e a dança dos atores e os princípios de encenação do nô.
Algumas mascaras do teatro nô:





O Palco




O palco projeta-se para dentro da platéia, para que se dê uma idéia de arte tridimensional que pode ser vista de vários ângulos. O palco é coberto por um telhado de estilo clássico, com a finalidade de recriar o ambiente original que, no Japão feudal, era ao ar livre. O cenário é muito simples e austero; a tela de fundo tem sempre a imagem de um pinheiro estilizado, nunca mudando de uma peça a outra, mesmo que a história se passe dentro de um palácio.
Nos fundos do palco encontram-se os músicos. Os instrumentos tocados são uma flauta de bambu e três tambores, de diferentes timbres e tamanhos. Todos eles são indispensáveis na relação entre a canção, a música e a dança, seja na harmonia da flauta, seja na marcação do ritmo dos tambores.



fonte: www.emdiv.com.br/pt/arte/enciclopediadaarte/2560-teatro-no-e-a-cultura-japonesa.html

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